Das práticas do Samba aos esquemas do webinar: participação como compartilhamento, governança e memória

Essa palestra foi apresentada no Congresso Internacional de Tecnologias e Gestão do Conhecimento do Território de Irecê organizado pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia (IFBA-Irecê) e Universidade do Estado da Bahia (UNEB-Irecê). CITGC 2021 31 de Maio 02 de Junho | Irecê-BA, Brasil

Introdução

Bom dia a todos,

É um prazer estar aqui com vocês. Quero agradecer o esforço de cada uma e de cada um para organizar este congresso, bem como a nossa mesa que recebe uma presença valiosa do Sudeste Asiático, para discutir temas sobre a tecnologia digital, a cultura, a educação e os desafios sociais.

Hoje trago comigo, na minha apresentação, muitas dúvidas e algumas descrições e comparações. Procuro pensar os processos de participação, de compartilhamento, da governança e da memória. Quero falar de um lado, sobre o Samba, como modelo cultural e artístico de participação entre artistas, músicos e “fandom” (fãs); e do outro lado do webinar, como modelo acadêmico e social de participação entre organização, especialistas ou profissionais e membros. Como a pandemia de Covid-19 forçou as pessoas a minimizarem sua comunicação face a face e substituí-la pela comunicação digital, o webinar, como uma conferência ou reunião on-line, assume um grande lugar e suas práticas são desenvolvidas no domínio acadêmico, bem como em muitos setores profissionais. Neste contexto, o Carnaval teve de ser cancelado este ano no Brasil, e sua celebração foi substituída por diferentes práticas e eventos artísticos e culturais digitais. Existe alguma conexão ou semelhança entre o samba e o webinar? Caso afirmativo, o que isso nos ensina?

Por que falamos do Samba em um congresso especializado em tecnologias e gestão do conhecimento? É porque gostamos do samba? É porque é tempo de pandemia e sentimos falta de eventos do samba? Essas podem ser explicações pessoais dos motivos. A motivação científica da nossa escolha é que entendemos o Samba como uma cultura participativa e suas práticas como um modelo de participação muito interessante para descrever e estudar. Por isso perguntamos: qual é a relação entre o samba e a cultura digital? Mais especificamente, qual é a ligação entre a escola de samba e a memória digital? Podemos comparar a escola de samba a um curso online, um webinar ou um exercício colaborativo? Podemos usar essa comparação para definir a noção de participação e ver como isso ajuda na gestão do conhecimento?

Escola de samba

Em um artigo intitulado “Alguns critérios poéticos e sociais para o design educacional”, o cientista da computação e educador sul-africano e americano Seymour Papert escreveu em 1975, que o aprendizado sobre e por meio da tecnologia pode ocorrer em ambientes automotivados e apoiados pela comunidade, como a escola de samba do Brasil. Ele escreve:

Se você aparecesse em uma escola de samba em uma típica noite de sábado, você iria levá-la para um salão de dança. A atividade dominante é a dança, com o acompanhamento esperado de beber, conversar e observar a cena. (…). Você logo começaria a perceber que há mais continuidade, coesão social (…). A questão é que a Escola de Samba tem outro propósito além da diversão daquela noite em particular. Este propósito está relacionado com o famoso Carnaval que dominará o Rio e em que cada Escola de Samba assumirá um segmento da longa procissão de dança de rua com mais de vinte e quatro horas de duração. Este segmento será uma apresentação elaboradamente preparada, decorada e coreografada de uma história, tipicamente um conto folclórico reescrito com letras, música e dança compostas recentemente durante o ano anterior. Portanto, vemos as funções complexas da Escola de Samba. Enquanto as pessoas vêm para dançar, elas participam simultaneamente da escolha e da elaboração do tema do próximo carnaval; as letras cantadas entre as danças são propostas de inclusão; a dança é também a audição, ao mesmo tempo competitiva e de suporte, para os papéis principais, o ensaio e a escola de treinamento para dançarinos em todos os níveis de habilidade (a tradução em portugues é nossa).

Em seu livro, co-escrito com Mizuki Ito e danah boyd, e intitulado Participatory Culture in a Networked Era: A Conversation on Youth, Learning, Commerce, and Politics (2015), Henry Jenkins fala sobre o samba no Rio de Janeiro enquanto aborda a noção de cultura participativa. Ele escreve:

Quando fui ao Rio, há alguns anos, visitei uma das escolas de samba e saí com uma noção clara do que Papert estava falando. Em qualquer momento, existem muitos modos diferentes de engajamento: alguns assistindo e observando, esperando para participar, enquanto outros estão na pista de dança e outros são muito mais periféricos, assistindo da varanda e mandando mensagens para seus amigos. Existem locutores em um sistema de som solicitando ativamente a participação, persuadindo os membros tímidos da comunidade a irem para a pista de dança. A certa altura, um grupo de pessoas com o que parecia ser uniforme de polícia ou militar avançou pelo espaço, agarrando pessoas que suspeitavam não contribuírem para o esforço coletivo. Ansioso para não ser “detido”, perguntei ao meu hospedeiro o que fazer, e ele sugeriu colocar uma camiseta festiva que recebemos na porta. Ele percebeu que, mesmo se eu não pudesse dançar, eu poderia pelo menos ser decorativo. Este foi um grande lembrete das muitas maneiras diferentes de os participantes podem contribuir e da necessidade às vezes de convidar, encorajar e, neste caso, até obrigar a participação em vez de tomá-la como certa (a tradução em portugues é nossa).

Webinar

Agora vamos falar sobre webinar ou web conferência. O termo “webinar” é uma combinação da palavra web e da palavra seminário/seminar, significando uma apresentação, palestra ou workshop que é transmitido pela web. De acordo com o dicionário Merriam-Webster, é “uma apresentação educacional online ao vivo durante a qual os telespectadores participantes podem enviar perguntas e comentários”. Na Wikipedia, lemos que o uso inicial se referia puramente à transmissão e ao consumo de streaming de áudio e vídeo pela World Wide Web. Agora é provável que os webcasts permitam a resposta do público às pesquisas, comunicação de texto com apresentadores ou outros membros do público e outras comunicações bidirecionais que complementam o consumo do conteúdo de áudio / vídeo transmitido.

Para ter um webinar, primeiro precisamos de conexão à Internet e algumas tecnologias que incluem software e funcionalidades. Em segundo lugar, precisamos de um hospedeiro: uma organização ou um indivíduo para fornecer acesso, regras, cadastro, gravação e gerenciamento.

Um webinar, como o que temos hoje, precisa ser preparado: técnicas, gerenciamento de tempo, palestrantes, público, marketing e um conjunto de regras para funcionar. Os participantes precisam de contas (ou e-mails) para se cadastrar e se conectar por meio de um link, para respeitar as regras para que possam interagir (com os palestrantes ou entre eles).

Um webinar tem um objetivo. Primeiro, ele substitui a interação face a face por qualquer motivo (por causa da pandemia nos dias de hoje). Em seguida, tem como objetivo apresentar palestras sobre um ou diferentes tópicos e discuti-las. As interações entre os participantes variam. Podem limitar-se a escrever mensagens (questões e comentários) na sala de bate-papo, ou a realizar intervenções orais ou audiovisuais. Os graus de envolvimento de cada um variam em função das suas ações, dos rastros digitais que produz ou deixa no ambiente digital que constitui o webinar, mas também fora deste ambiente (falar ou escrever sobre o webinar em outras plataformas). O webinar tem uma duração: começa e termina em horários específicos. Podemos registrar e especificar os termos de seu acesso, para que possamos verificar seu conteúdo a qualquer momento e de qualquer lugar.

De um sistema de símbolos a um sistema de rastros

As escolas de samba são umas das instituições culturais mais famosas do Brasil. Estão presentes dentro das comunidades, principalmente as afro-americanas. O samba é resultante de estruturas musicais europeias e africanas, mas foi com os símbolos da cultura negra brasileira que ele se alastrou pelo território nacional, tornando-se uma das principais manifestações culturais populares.

O samba é uma manifestação cultural. É mais de que um ritmo, uma dança. É um evento popular. Uma cultura. Transmite valores, história e narrativas de memória. Segundo Vinícius Ferreira Natal (2014)1, as expressões carnavalescas possuem papel importante na constituição do espaço urbano e cultural. Não é o caso do webinar, onde humanos e fatores técnicos e comunicativos coabitam e se trocam para produzir dinâmica, conteúdo, conhecimento e realidade? Os participantes do webinar e suas práticas não elaboram somente o ambiente digital e participam da editorialização do conteúdo, mas também da própria realidade.

O samba, como cultura, deve ser estudado em sua complexidade. Não podemos analisar agora todos esses fatores, mas vamos nos concentrar em um: a comunicação. Seguindo Edward T. Hall, as atividades de vida são interações dinâmicas do organismo com seus ambientes. Essa interação é influenciada pela presença de outros organismos do mesmo tipo, suas características variam, conforme Gregory Bateson, que fala sobre a análise interacional do comportamento humano. Ele cria o conceito de cismogênese, distinguindo entre dois tipos de processos de diferenciação (cismogênese): o primeiro é simétrico e o segundo é complementar. Em relações simétricas, os parceiros se envolvem em uma espiral de magnitude crescente do mesmo comportamento, enquanto em relacionamentos complementares os parceiros juntos formam uma entidade bipolar.

Esses dois níveis de relações podem ser vistos na escola de samba. Por exemplo, entre o Mestre da bateria e seus percussionistas (relação complementar). É o mesmo no webinar? Nós pensamos que sim. Esses dois níveis de relações podem ser vistos na comunicação entre os organizadores e os membros de um webinar, bem como entre o último e os palestrantes principais. Também pode descrever o feedback que os membros podem produzir após o webinar, dando comentários, notas de avaliação ou até mesmo escrevendo sobre o evento em vários ambientes digitais.

Entendemos a cultura do samba como um sistema de símbolos vivenciado e tratado pelos sujeitos sociais. Mostra práticas e valores comuns compartilhados entre os membros da comunidade. Eles podem ser descritos como sinais. Os movimentos e comportamentos nos ambientes de samba podem ser definidos como símbolos seguindo Erving Goffman (1973) ou “signos-rastros” seguindo Béatrice Galinon-Mélénec (2011).

De acordo com Galinon-Mélénec (2020)2:

Tudo é um signo (o corpo e todo o material fora do corpo, ou seja, os humanos e seus ambientes humano e não humano), e todos os signos são o resultado de interações. Nessa interpretação, ao conectar um signo àquilo que o produziu, o signo torna-se um “signo-rastro”. Essa associação conecta rastros do passado às suas interpretações presentes. Nesse sentido, todo signo é signo-rastro do processo que o construiu. Os signos-rastros não são apenas numerosos, mas em movimento perpétuo (a tradução em portugues é nossa).

Os símbolos comportamentais podem se tornar signos-símbolos e promover o sentimento de pertencimento a uma comunidade, que compartilha os mesmos valores, como é o caso do samba.

Já no ambiente digital, as pegadas são diferentes dos signos porque fogem para a significação. A pegada digital não tem um significado em si. Pode ser destacada do corpo / sujeito de que emana, pode ser indexada, combinada com outras e calculada. Quando a pegada é detectada e interpretada, ela se torna um rastro. A rastreabilidade digital é produzida automaticamente durante um cálculo, codificação ou conexão, na maioria das vezes sem o conhecimento do emissor e do receptor.

A cultura é antes de tudo compartilhar

De acordo com Milad Doueihi, o digital torna-se cultura pela transição ou ultrapassagem do tecnicismo para usos culturais traçados na tecnologia digital, ou da computação e processamento de dados ao “digital”. O que ele chamou de “le numérique” (em francês) digital expressa a mudança no status da ciência da computação. Ela passou de um ramo da matemática a uma ciência autônoma para se tornar uma indústria e, recentemente, uma cultura. Essa nova cultura modificou a construção da sociabilidade e dos espaços que habitamos. O digital nos revela uma coisa considerável: cultura é antes de tudo compartilhar. Sem compartilhar, não pode haver cultura. Compartilhar é ter em comum, dividir e distribuir, postar, contar, participar. Portanto, a participação está no cerne da cultura digital; até podemos dizer que esta cultura não pode existir sem a participação.

Memória coletiva e reinvestida

Essa dinâmica entre conexão e compartilhamento, participação e conhecimento designa o mecanismo do processo de memória. Memorizar é reorganizar o conteúdo. Por muito tempo, a memória foi reduzida a uma capacidade psíquica de registrar a experiência do sujeito, sendo negada qualquer dimensão coletiva. Na era digital, não podemos fugir de sua dimensão técnica, especialmente porque as questões políticas e jurídicas surgiram com a digitalização do conteúdo e o aumento do volume de inscrições digitais. A apreensão desses problemas exige uma reflexão menos instrumental do que ambiental (sistêmica).

Em seu livro Rogue Archives: Digital Cultural Memory and Media Fandom (2016), Abigail De Kosnik examina a prática de arquivamento na transição da mídia impressa para a digital. Ela escreve que os “Estudos da Memória” remontam pelo menos ao Fedro, escrito por Platão no século 4; mas o campo em sua forma contemporânea foi iniciado por Maurice Halbwachs em seu livro Les Cadres Sociaux de la Mémoire (1952) [Os quadros sociais da memória], no qual Halbwachs articulou sua teoria da memória coletiva. Segundo ele, a memória é menos produto de uma apreensão do que de uma construção, onde a montagem dos fragmentos exige a retransmissão dos quadros sociais da linguagem, do espaço e do tempo. Halbwachs argumenta que, à medida que os indivíduos formam suas memórias na sociedade, é também na sociedade que eles se lembram, reconhecem e localizam suas memórias. Ele sugeriu que toda memória individual foi construída dentro de estruturas e instituições sociais. Ele afirmou que a memória privada individual é compreendida apenas por meio de um contexto de grupo.

E a memória no contexto do samba? Algumas escolas de samba possuem departamentos culturais que tem como objetivo de registrar memórias, experiências e testemunhas individuais de pessoas que tem trajetórias ligadas à escola de samba. Outros possuem arquivos em papel e/ou digitais e produzem conteúdo nos websites e nos canais de mídia social para falar sobre suas histórias, atividades e comunicar com o público.

A memória é importante para o samba. Um dos objetivos da construção da memória sobre o samba é salvaguardar seu conteúdo como uma nova cultura imaterial e promover sua difusão. O samba é um patrimônio nacional brasileiro e deve ser preservado institucionalmente. Salvar a memória é também não esquecer e educar indivíduos e grupos sobre cultura, identidade, tradição, história e presente.

Em seus trabalhos sobre memória, Louise Merzeau contrapõe a “memória reinvestida” – por indivíduos, grupos sociais e comunidades – a uma “memória metálica” descrita por Eni Orlandi (2010) como a memória da máquina.

Merzeau convoca os usuários digitais a construir uma “presença digital” (présence numérique), apropriando-se de seus rastros. Mas como reinvestir a memoria e construir a presenca digital?

Por exemplo fazer um webinar e ao mesmo tempo produzir conteúdo usando um editor de texto colaborativo online como Framapad, ou escrevendo no Twitter, ou editar e organizar ideias de forma colaborativa na forma de notas como Framemo; permite aos usuários de comunicar, não apenas sobre o tema do webinar e a apresentações dos palestrantes, mas também sobre suas próprias experiências, sobre a história do evento, seu modelo organizacional, os comportamentos e ações dos participantes, sua gestão, seus métodos de comunicação e arquivamento, etc. Essas formas mostram que o espaço público é um espaço de memória e que essa memória é de todos. A governança vem da criação de uma comunidade que vai administrar o recurso e garantir seu compartilhamento.

Transliteracia, re-documentarização e patrimonialização

Dessa forma, os usuários participam na elaboração de uma memória heurística, que lhes dá os métodos para reinventar seu uso. Esta abordagem de reapropriação pode ser resumida em três níveis:

• O primeiro está ligado às competências digitais dos indivíduos ou, mais especificamente, à transliteracia (para habitar o ambiente digital: habilidades para gerir equipamentos e interfaces; produzir e modificar conteúdo; entender a informação e analisar uma situação ou um processo; ter um pensamento crítico).

• O segundo é a re-documentarização (Salaün, 2007). Trata-se de trazer todos os metadados essenciais para a reconstrução dos conjuntos do documento e toda a rastreabilidade do seu ciclo. Nessa reconfiguração geral do acesso, os dados visuais desempenham um papel particular. As próprias imagens não são apenas documentos a serem reprocessados, mas também servem de modelo para o desenvolvimento de novos dispositivos de navegação e indexação de conteúdo. Essa reapropriação de rastros permite a extração de peças e seu registro em novas séries, possibilitando enquadrá-las em uma diversidade de comunidades, em memórias construídas como comuns.

• O terceiro está relacionado a uma patrimonialização explícita, na forma de um arquivo institucional de rastros digitais.

Conclusão

Então, o que aprendemos com a comparação entre as práticas de samba e o webinar em relação à participação?

– O webinar, assim como a sessão de samba, precisa ter objetivo e continuidade para não passar e ser esquecido. Enquanto os integrantes da escola de samba participam, por meio de sua dança, da escolha e da elaboração do tema do próximo carnaval, os integrantes do webinar participam por meio de suas interações (comentários, intervenções, questionamentos, desconexões) na produção do conteúdo e em seu sucesso ou sua falha.

– A escola de samba, bem como o webinar, precisa de membros registrados. Mas os membros não constituem um elemento suficiente para ter participação. Participar não significa apenas ser ativo, é também fazer parte de uma prática, uma cultura e um espaço compartilhados e contribuir na produção de conteúdos valorizados pela comunidade.

– O samba como modelo de participação mostra práticas sociais e culturais, estratégias de comunicação e a importância da construção da memória. A cultura do webinar, para constituir uma estrutura participativa, precisa fazer parte da transliteracia, superar a interação para o envolvimento e o engajamento na escrita, no compartilhamento e na memorização. Os rastros que constituem ou estão vinculados ao webinar, devem ser organizados em projetos de memória (particular, institucional ou coletivo).

– O webinar não pode ser entendido apenas como mais uma ferramenta on-line, mas como um lugar para habitar, favorecendo a participação, a inclusão, a governança e a elaboração da memória. Focando em o que podemos fazer e não apenas no que Eu posso fazer, e possibilitando a construção de comunidades e não apenas as identidades e reputações digitais; a participação pode transitar da capacidade de ler e escrever no digital para a de saber como programar nossa rastreabilidade.

Agradeco sua atenção .

1 Natal V.F. (2014). Cultura e Memória na Escola de Samba Acadêmicos do Salgueiro. Dissertação de mestrado em Sociologia e Antropologia, Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

2Galinon-Mélénec B. (2020). The “signe-traces paradigm”. Fragments. Translation by Laura Kraftowitz, from “Fragments théoriques du signe-trace, propos sur le corps communicant”, in L’Homme trace, Perspectives anthropologiques des traces contemporaines, Paris, CNRS éditions, série L’Homme-trace, tome 1, 2011, p. 191-213.

Advertisement

lnventive traces to reinvent our participation in the new normal

This paper was presented in the 8th Annual Conference ANPOR-APCA 2020 on the second of December 2020. The Webinar is organized by the Asian Network for Public Opinion Research (ANPOR) and the
Asia-Pacific Communication Alliance (APCA) in Thailand.

Good afternoon fellow lecturers and participants,

My name is Hadi Saba Ayon, and I am a researcher in information and communication sciences from the University of Le Havre Normandie in France. My work focuses on interpersonal communication, digital culture, disability and mental health.

I am delighted to be with you today. I wish to thank Professor Jantima Kheokao, The Asian Network for Public Opinion Research and The Asia-Pacific Communication Alliance for inviting me to this event.

We question in our presentation today the meaning of participation during the Covid-19 pandemic, in a highly digitalised society, advancing with incredible speed towards a digital transformation. We also question the role that digital memories can play in making the participatory process efficient by analysing the notion of participation from different perspectives and fields.

Our world changed significantly in a matter of months. Our body language and facial expressions are harder to read and comprehend. Just as health, our interpersonal communication is another victim of this pandemic. So, what happens to participatory culture now?

Human beings cannot be defined outside of their interaction with each other and the outside world. As put by the Palo Alto school in the ’50s, one cannot NOT communicate, because our bodies send and receive information every second. George Herbert Mead and Erving Goffman who studied social interaction for the Chicago School showed that meanings derive from social interaction and are modified through definition and interpretation.

If the pandemic shows us anything new today, it is how we leave traces in every move we make.

Dominique Cardon defines the digital culture as the sum of the consequences of computing techniques on our societies, reconstituted and redesigned by traces. This said, a stand-alone trace does not have a meaning. Only when gathered with other traces and combined in a context, it can be calculated, analysed and becomes significant.

Béatrice Galinon-Mélénec, the founder of the “Human Trace” concept, sees the human being as “a producer of traces and a product of traces operating in a constant feedback loop that becomes a system”, all at once.

Put together; these theories gain tremendous importance during the current pandemic: we are surrounded today with digital inscriptions, traces of our activities on the Internet, and on related software and services. We form today an incredible collection of traces: we use the Internet to work from home. We buy online and call online transportation services. We do it all to avoid physical interaction. Our society moved from a “conversation of gestures”, to “online social scores”.

Participation as an accomplishment of life habits

In 2011, we started studying social participation in disabled persons in Le Havre – France, focusing on people with schizophrenia. This work led us to the “Human Development Model – Disability Creation Process” (HDM-DCP), a conceptual model developed by Quebec researchers in 1998, and later in 2010 and 2018. The model aims at documenting the causes and consequences of the disease, trauma, and other effects on integrity and the development of the person. According to the Quebecker model, a social participation situation refers to: “The total accomplishment of life habits, resulting from the interaction between personal (impairments, disabilities and other personal characteristics) and environmental factors (facilitators and obstacles)”.

Today, the acceleration of digital transformation caused by pandemic brings us back to the concept of calculated identity, first introduced by researchers Fanny Georges and Louise Merzeau. However, it is not easy to measure the accomplishment of daily tasks and subsequently, the level of social participation, unless we see digital as several tools where traces are left. In that sense, our activities in the digital ecosystem are not just a social score. They are a part of a digital habitat-a milieu- that we construct permanently to live in.

Milad Doueihi adds that the digital is also a humanism, in the sense that it modifies our relationship to texts, to the institutional supports built in the 19th century (university disciplines, copyright, intellectual property) and to politics in its democratic dimension because it is collaborative. His view on participatory culture is shared by Henry Jenkins (2015).

Participation as a part of shared practice and culture

According to Jenkins, a participatory culture describes “what are sometimes very ordinary aspects of our lives in the digital age. A participatory culture is one which embraces the values of diversity and democracy through every aspect of our interactions with each other – one which assumes that we are capable of making decisions, collectively and individually, and that we should have the capacity to express ourselves through a broad range of different forms and practices”.

Jenkins discusses the evaluation of our understanding of participation with the impact of digital technologies – and today, with the pandemic that affects our lives. The digital is most significant revelation of this: culture is, above all about sharing. Without sharing there can be no culture. To share is to have in common, to divide and distribute, to post, to tell, to participate.

Participation as transliteracy?

Digital gathers all types of media and allows the dynamics of back and forth between them. This is why it is considered a transmedia. Switching from one reading and writing system to another requires new skills beyond managing IT programs. They include operating forms and content of digital production and evaluation of information.

Sue Thomas defines transliteracy as “the ability to read, write and interact across a range of platforms, tools and media from signing and orality through handwriting, print, TV, radio and film, to digital social networks”. Transliteracy cannot be limited to computer-based materials and skills. It encompasses communication types across time and culture. Therefore, participation transcends the handling of technology or software and echoes the notion of “knowledge organisation” (Zacklad, 2013).

Participation for building digital memories

This dynamic between connection and sharing, participation and knowledge does not designate anything other than the very mechanism of the memory process. Memorising is always reorganising content. If memory occupies a prominent place in debates on the societal, cultural or cognitive effects of digital technology, it was only recently that the problem entered the field of information and communication sciences.

In her memory works, Louise Merzeau opposes “reinvested memory”-by individuals, social groups and communities- to a “metallic memory” described by Eni Orlandi as the memory of the machine.

Therefore, users are encouraged to build a “digital presence” by appropriating their traces, “so that the field of accessible knowledge remains an open, plural and uncertain public space”.

While exchanging information on online collaborative social networks like Twitter; on a collaborative text editor like Framapad or Framemo; users can communicate, not only on their own experience but also on the history of an event/organisation/problematic, its organisational model, the behaviours and actions of the participants, its management, its methods of communication and archiving. This work shows that public space is a space of memory, and that memory belongs to everyone.

This approach of re-appropriation has three levels:

  • The first concerns the digital competences of individuals.
  • The second is re-documentarization, which brings all the metadata needed to rebuild document sets and the traceability of its cycle. The re-appropriation of traces allows the extraction of pieces and its register in new series, making it possible to fit them into a diversity of communities, in memories built as commons.
  • The third is related to an explicit patrimonialization, in the shape of an institutional archiving of digital traces.

By focusing on what “We can do” and not just what “I can do”, participation can transit from the ability of reading and writing in the digital to the one of knowing how to program our traceability. We, therefore, must consider governance when building a digital memory.

Moving from a logic of indexing pages (Google PageRank) to a logic of indexing individuals (Facebook’s EdgeRank) and places and objects, the taxonomy of traces threatens all possibility of developing common spaces for memory and knowledge. Recreating documentary corpus open to collective contribution and memorisation, may be one of the most viable solutions to this phenomenon.

Thank you for your attention.

Participatory culture and reinvention of everyday life

This text was presented in the International webinar “Post-Pandemic, Participation Matters” organized by School of Communication in Catholic University of Indonesia, Atma Jaya, on 26 June 2020, in Jakarta.

Selamat siang, good afternoon everybody,

First of all I want to congratulate School of communication in Atma Jaya Catholic University of Indonesia for its 11th anniversary, and want to thank my esteemed Indonesian friends Professor Dorien Kartikawangi, head of School of Communication, Dr. Eko Widodo, dean of Faculty of Business Administration and Communication Sciences and their colleagues, for the organization of this international web Conference, in which I have the honor  to participate. My regards go also to the speakers, Professor Peng Hwa Ang, dearest Nia Sarinastiti, dearest Santi Indra Astuti and Láisa Rebelo Cavalcante.

International Webinar “Post-Pandemic, Participation Matters” – Unika Atma Jaya

It is a great pleasure for me to be with you, as if I am presently in Jakarta, this beautiful city close to my heart as the father of a batawi baby, and where I met admirable fellows and professors. Which you all good health and good luck in this webinar.

In the following minutes, we will question the concept of participation as a set of socio-cultural practices located in a physical space and a temporality, as well as in the digital environment. Furthermore, we will emphasize the need to invest in digital education – also known as transliteracy – and its accessibility, to include those whom the new post-pandemic world excludes.

The appearance of the novel coronavirus has deconstructed social space as we know it, and significantly disrupted our participation in its spheres. The physical and social distancing, in addition to the closing of state borders, are barely the tip of the iceberg. As a matter of fact, and in the name of safeguarding the public health, it is the very notion of participation – as an act located in space and time – that was significantly turned upside down, and must, therefore, be rethought, restructured and reconstructed in a world where humans and Covid-19 must now coexist.

However, participatory culture existed long before the internet. As for digital, it has and always will revolutionize the way we approach the different aspects of participation.

In his book The Practice of everyday life, French intellectual Michel de Certeau evokes daily invention and creativity through user operations. He proposes a distinction between two concepts: space and place.

“A place is (…) an instantaneous configuration of positions. It implies an indication of stability. A space exists when one takes into consideration vectors of direction, velocities, and time variables. Thus, space is composed of intersections of mobile elements. It is in a sense actuated by the ensemble of movements deployed within it. Space occurs, as the effect produced by the operations that orient it, situate it, temporalize it, and make it function in a polyvalent unity of conflictual programs or contractual proximities. On this view, in relation to place, space is like the word when it is spoken (…). In short, space is a practiced place. Thus, the street geometrically defined by urban planning is transformed into a space by walkers.”

Interestingly today – we are witnessing yet new forms of space, in the light of the ongoing pandemic and its impact on our digital culture.

The exemplifications are: (1) the pre-pandemic space; (2) the confinement space; and (3) the deconfinement space. Their respective representations vary according to the geographical, cultural and political context of each country. The pandemic has significantly altered the face-to-face participation in each of the space models.

Let us take the example of natural parks in a Geneva – Switzerland and the Pays de Gex, across the borders in France.

Before the pandemic, the local authorities and different users invested in the digital technology (such as websites, mobile applications, photo galleries and others) in order to develop architectonics that enrich physical spaces. The institutional websites provided information such as a description of the premises, accessibility, regulations, events and maps. Many digital projects flourished, focusing on the intersection of spaces, their stories and socio-cultural practices. Visitors in both areas could, however, swing by and have a first-hand discovery of what the place has to offer.

Nonetheless, when the confinement measures were enforced, albeit to different extents for both sides, visitors in France were asked to carry a travel certificate before leaving home. A simple task, like visiting a park, now required online research. The partial or complete closure of parks in France prevented any participatory activities. Those parks that remained open in Switzerland closed their shops and catering services and imposed severe restrictions on visitors, like precluding the gathering of more than five people or group walks.

Lately, and thanks to the deconfinement, the old participatory practices have taken a blow: despite the reopening of all parks and limited catering services, some shops and areas remain closed to limit social interaction. Other practices emerged, like off the counter orders and self-service, all while respecting strict hygiene rules such as prohibiting handshakes and hugs, wearing a mask, and enforcing the registration of contact details for people going at restaurants for contact tracing.

But what about the participatory culture in all this?

As we all observed, the social networks, blogs and websites, peer-to-peer services and online communities continued to grow and develop. Instead of merely popping by the parks, netizens debated measures taken by the authorities and enquired on how to get there by relying on the individual or collective experiences. In this participatory process, users were looking for accurate information to avert uncertainty.

There is no doubt about it: Sars-Cov-2 disrupted our society and our lives. It now dictates a new way for almost everything, a “new normal”, and we are still struggling to understand how, and why. The “virtual urbanism” professed by Milad Doueihi in 2011 has become our refuge, our new space.

The distinction between real and virtual no longer holds. Digital design structures, developed in the image of the architecture of our homes, parks and cities, is everywhere we look. Its technologies offer possibilities for interaction, action and visibility. Its architectonics recall the architecture in the physical world. They also connect conception and design to social dynamics.

As we may well imagine, working from home and physical distancing measures encouraged and empowered the emergence of participative online communities. It is significant to note that this pandemic has awakened the problem of the digital divide and digital illiteracy, further excluding people and groups from digital environments and online communities.

Today, the architectonics that we have built in the digital world, and that resemble our urban architecture need to be rethought. New digital urbanism, inspired by the changes we made to our lived spaces, must follow suit, and become more user centric.

User experience – a significant factor in the design of websites, platforms and digital applications – must be at the heart of our participation in the physical space, otherwise known as the lived space. Since we now live in both worlds, we should redesign one to reflect the changes we had to bring to the other, thus enabling the new ecosystem to fully function.

We must reinvent our everyday life so that our web and urban architecture complement each other. As such, our participation models must also be reviewed for better and fairer inclusion.

The immense acceleration and growth in the use of digital technology throughout this pandemic require a serious investment in the digital education (transliteracy) and digital accessibility to include those who find themselves excluded from this new world.

Participants should be aware of what they are participating to. They must know to what extent the production and circulation of their media content would contribute to their collective well-being.

Exchange with Dr. Dorien Kartikawangi

This pandemic has taught us many lessons:

  1. It reminded us of our animality and fragile biology. We were social beings long before we became digital subjects. It stands out as an intruder that enforces the adjustment of our space, and of our way of life if we want to survive.
  2. It showed us the similarities between our two worlds, where an urban exodus of individuals who move to the countryside is replicated in the digital, and on how we consume and look for information and share it.
  3. And finally, it teaches us that information is the essence of our civilization and that its presence requires cooperation at the local and international levels to achieve a new participatory culture in what has become our new normal.

Thank you for your attention.